A Exposição Desrespeitosa

A condenação de um tribunal internacional somada a uma sangrenta guerra civil culminaram com a talvez maior exposição de barbárie nos tempos modernos. 
Na semana passada, foi encontrado, agredido e morto o ex-líder líbio Muamar Kadafi. A sequência das imagens, desde a caçada ao quase linchamento público fechando com a imagem de seu corpo sendo arrastado e despido - tudo foi amplamente coberto pela mídia. A lamentável constatação está no fato do ser humano mais uma vez usar a regra do "olho por olho". Todos tiveram a oportunidade de dá-lo um julgamento, mas foi mais fácil, até mesmo excitante matá-lo como desconto por tudo que fizera - mate quem matou. Foi mais uma oportunidade perdida da humanidade para mostrar que ainda é humana.

A imprensa, sempre tão reservada na exibição de feridos e mortos, mostrou o ex-líder líbio em quase todos os ângulos possíveis e em HD, com ferimentos sérios na cabeça, como um Judas sendo agredido e arrastado na terra. Mais, a cobertura jornalística fechou com as numerosas fotos do corpo num colchão sangrento em um frigorífico. Agora, com o avançado estado de decomposição, finalmente o corpo do ex-líder foi enterrado.

Qual o saldo disso? Perguntas e temores.

Qual o limite do que a mídia pode exibir aí em sua casa, no seu computador através da primeira página dos sites? Nas 24 horas do dia, as imagens sangrentas foram exibidas sem qualquer censura. Por isso já soa antiquado e desnecessário o termo clichê "retire as crianças da sala".  Já que crianças veem agressão de casais e de mãe contra a filha em plena novela das 8, assassinas frias em novela das 6. É tudo normal.

Qual o próximo corpo vai ser o destaque dos telejornais, da internet, da mídia impressa?

Outra questão. A preocupação da análise de que, vendo os guerrilheiros em festa pela captura de Kadafi, diversas células terroristas no mundo estavam esperando apenas esse estímulo para nascerem. Qual a implicação disso, na paz do mundo a longo prazo?

De toda essa questão, a surpreso de constatar a mídia tão ávida por sangue. Para quem pensava que o limite tinha sido a transmissão do enforcamento de Saddam Hussein. Por enquanto, o sangue de Kadafi ainda alimenta os bolsos dos conglomerados de mídia, mas por um pequeno período. Chamar a mídia de vampira seria um termo bem justo para esse comportamento. Ganhe o seu hoje, dane-se o amanhã. Quem compra isso é tão vampiro quanto.